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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Infelizmente as dores também.



Muitas vezes ouço dizer que em momentos de crise, quando um animal é encontrado na rua, ferido, abandonado, perdido, atropelado, ou uma pessoa deixa de poder cuidar do seu animal de estimação e pretende entregá-lo para adopção numa associação animal, estas “fecham a porta na cara” às necessidades do momento, consequentemente ao dito animal em perigo de duplo abandono. E na maioria dos casos, é verdade. Fecham mesmo a porta.

Nas situações em que me vi aflita e a precisar de ajuda, uma com um animal atropelado nos braços e em visível sofrimento e outra a precisar de albergue temporário para 10 cães, “todas as portas onde bati se me fecharam na cara”. Ninguém podia, ninguém tinha espaço. Mesmo a pagar, ninguém se ofereceu para me dar uma alternativa, uma sugestão, uma solução efectiva.

Como cidadã comum, sem qualquer vínculo ao meio da protecção animal, tive de lutar sozinha, de esgravatar, de puxar pela imaginação ( que em momento de aflição parece que se nos varre toda do cérebro), de “fazer das tripas, coração” e “do bofe, razão”, para conseguir minimizar a frustração de querermos ajudar um ser em sofrimento e a única coisa que aparentemente conseguimos é ficar com um problema nas mãos sem uma boa solução. Porque como diz o ditado popular, “ o que não tem solução, solucionado está”.

Aprendi com estas e com mais algumas lições que para que os outros queiram fazer um sacrifício, nós temos de querê-lo muitíssimo mais. E demonstrá-lo por palavras, por actos até que alguém se emocione e aja. Aja em consonância com um objectivo: resolver não um mas todos os problemas semelhantes.
Mas para que a vontade alheia de ajudar seja efectiva é preciso que estejamos conscientes do essencial. É preciso que queiramos e consigamos ficar presos à nossa vontade. Não basta “obrigar” os outros a ajudar. Não basta entregar o embrulho e desejar boa sorte. Não basta desejar felicidades. Temos que estar. Atrás, à frente, ao lado mas estar. Agir pouco, agir muito mas agir. E se não se souber o que fazer, saber parar e perguntar: O que posso fazer? E cumprir religiosamente essa vontade.


Hoje, depois de um longo percurso na protecção animal, sei porque é que tantas portas se fecham. Porque estou do lado de dentro. Porque já abri as minhas e ficaram escancaradas a ver um desfile de intenções, de saudações, de promessas, de louvores banais e de poucas acções reais. Quando uma associação fecha a porta a um animal em aflição é porque esta já foi arrombada muitas vezes. E a solidariedade é tanto mais limitada quanto menos vontade solidária houver. Ora se mesmo num acto solidário, a intenção for pedir ajuda e não se somar ajuda ao acto, este é mais uma soma de encargos para quem já os tem de sobra. Não há milagres na multiplicação dividida. (2x2=4:2=2)


As associações de protecção animal, em Portugal, são um somatório elevado de animais para cuidar, para tratar, para destinar, de impotência perante carências financeiras, humanas e de tempo. Mas são também um somatório de dores. Muitas dores perante o sofrimento a que se assiste, impotente sobre o que não consegue fazer. Das portas que se têm de manter fechadas. Da raiva pela indiferença, injustiça, e até pela pena. As dores que vão destruindo as forças de quem um dia destinou em si a sua vontade para agir. E não vão ficando os mais resistentes. Apenas os mais alheados.

Há uma frase popular que diz: As atitudes ficam com quem as comete. Infelizmente neste caso, as dores também.

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