PROJECTOS ASSOCIADOS

PROJECTOS ASSOCIADOS
www.upka.umaa.blogspot.com - www.facebook.com/upka

www.760300030projectopiloto.blogspot.com - www.facebook.com/projectopiloto

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Infelizmente as dores também.



Muitas vezes ouço dizer que em momentos de crise, quando um animal é encontrado na rua, ferido, abandonado, perdido, atropelado, ou uma pessoa deixa de poder cuidar do seu animal de estimação e pretende entregá-lo para adopção numa associação animal, estas “fecham a porta na cara” às necessidades do momento, consequentemente ao dito animal em perigo de duplo abandono. E na maioria dos casos, é verdade. Fecham mesmo a porta.

Nas situações em que me vi aflita e a precisar de ajuda, uma com um animal atropelado nos braços e em visível sofrimento e outra a precisar de albergue temporário para 10 cães, “todas as portas onde bati se me fecharam na cara”. Ninguém podia, ninguém tinha espaço. Mesmo a pagar, ninguém se ofereceu para me dar uma alternativa, uma sugestão, uma solução efectiva.

Como cidadã comum, sem qualquer vínculo ao meio da protecção animal, tive de lutar sozinha, de esgravatar, de puxar pela imaginação ( que em momento de aflição parece que se nos varre toda do cérebro), de “fazer das tripas, coração” e “do bofe, razão”, para conseguir minimizar a frustração de querermos ajudar um ser em sofrimento e a única coisa que aparentemente conseguimos é ficar com um problema nas mãos sem uma boa solução. Porque como diz o ditado popular, “ o que não tem solução, solucionado está”.

Aprendi com estas e com mais algumas lições que para que os outros queiram fazer um sacrifício, nós temos de querê-lo muitíssimo mais. E demonstrá-lo por palavras, por actos até que alguém se emocione e aja. Aja em consonância com um objectivo: resolver não um mas todos os problemas semelhantes.
Mas para que a vontade alheia de ajudar seja efectiva é preciso que estejamos conscientes do essencial. É preciso que queiramos e consigamos ficar presos à nossa vontade. Não basta “obrigar” os outros a ajudar. Não basta entregar o embrulho e desejar boa sorte. Não basta desejar felicidades. Temos que estar. Atrás, à frente, ao lado mas estar. Agir pouco, agir muito mas agir. E se não se souber o que fazer, saber parar e perguntar: O que posso fazer? E cumprir religiosamente essa vontade.


Hoje, depois de um longo percurso na protecção animal, sei porque é que tantas portas se fecham. Porque estou do lado de dentro. Porque já abri as minhas e ficaram escancaradas a ver um desfile de intenções, de saudações, de promessas, de louvores banais e de poucas acções reais. Quando uma associação fecha a porta a um animal em aflição é porque esta já foi arrombada muitas vezes. E a solidariedade é tanto mais limitada quanto menos vontade solidária houver. Ora se mesmo num acto solidário, a intenção for pedir ajuda e não se somar ajuda ao acto, este é mais uma soma de encargos para quem já os tem de sobra. Não há milagres na multiplicação dividida. (2x2=4:2=2)


As associações de protecção animal, em Portugal, são um somatório elevado de animais para cuidar, para tratar, para destinar, de impotência perante carências financeiras, humanas e de tempo. Mas são também um somatório de dores. Muitas dores perante o sofrimento a que se assiste, impotente sobre o que não consegue fazer. Das portas que se têm de manter fechadas. Da raiva pela indiferença, injustiça, e até pela pena. As dores que vão destruindo as forças de quem um dia destinou em si a sua vontade para agir. E não vão ficando os mais resistentes. Apenas os mais alheados.

Há uma frase popular que diz: As atitudes ficam com quem as comete. Infelizmente neste caso, as dores também.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Foi longo o inverno

Foi longo o inverno
sempre chuvoso
mesmo quando os olhos dormiam
a chuva sentia-se nas pálpebras mortas.
Deixei de ter vontade para sair à rua
cumprimentar as pessoas que passavam
ou mesmo querer descobrir algo para amar.

Deu-me tempo para tudo.
Para perceber quantos dias tem a alma
quantos corvos enchem um coração de luto
quantas portas se abrem, invisíveis.
Foi longo o inverno.
Tão longo como é o esquecimento.

Valor da propriedade: 50€ a favor da Associação dos Amigos dos Animais de Bragança


sábado, 3 de abril de 2010

... Como ele gostava.


A D. Bruna é talvez o cão que mais felicidade me deu tirar de um canil. Como sempre pouco sabemos da sua história anterior. Sabemos que viveu 8 anos preso a uma trela. Embora não sendo, neste caso por negligência mas por falta de verba para criar outras instalações, a verdade é que este matulão de 40 kg viveu 8 longos anos, muitos meses, milhares de dias, milhões de horas, e intermináveis segundos, preso a uma trela.
O resultado disso foi a deformação da anca ( provavelmente de estar muito tempo sentado sobre a mesma) diagnosticado pelo veterinário como uma espécie de displasia.

Fomos buscá-lo às 3 da manhã ao Estádio Nacional em Lisboa. Eu estava nervosa. Ele nem por isso. Quando nos foi entregue entrou para o carro onde mal cabia. O olhar dele era o de uma curiosidade muito tranquila. Depois da curta viagem em silêncio, subiu de elevador onde se deparou com uma sala cuja indiferença nos pareceu absoluta pois continuava a estar preso a uma trela. Dormiu ao lado do meu sofá muito sossegado e de manhãzinha partimos para o seu novo lar. Uma boa quinta com 1 hectare. Até aqui nada de novo. Deixou-se levar pelas novidades de forma tranquila sem manifestar qualquer agrado nem desagrado.
Com o passar dos dias começou a tornar-se exigente. A ganhar vida. Fechado nem pensar. Se o carro saísse tínhamos de levá-lo senão começava numa berraria infernal junto ao portão até nos convencermos que havia ali sofrimento de ser deixado para trás. E pronto. Lá abríamos o portão para sua súbita felicidade e zás. A D. Bruna corria para dentro do carro com a cauda a abanar fortemente (parecia um chicote) como quem diz a si mesmo: “ Não há volta a dar. Agora não perco um minuto”.
Viajava sempre com o focinho colado ao vidro de trás e com os olhos muito abertos a ver literalmente tudo o que mexia. As viagens para ele eram uma felicidade extrema. Não queria saber de nada nem de ninguém a não ser de se manter com os olhos coladissímos ao exterior, com a língua de fora a ver ver ver, como se o mundo lhe estivesse a escapar por cada segundo de vida. Na quinta a sua vida era uma fona. A quinta era para correr, a moto 4 um brinquedo para ele perseguir, os carros para o transportar nem que fosse por uns escassos metros, a soleira da porta, o local ideal para tirar a soneca da tarde até o sol cair. E o sofá do quarto dos cães o local ideal para uma noite bem dormida. Até à prometida fona do dia seguinte.
Vê-lo nesta felicidade era um prazer diário. Até nos fazia esquecer que ele era grande e sénior com os seus 10 anos ou mais.
Num dia em que a moto 4 andou a carregar lenha ao longo do hectare toda a manhã, a senhora D. Bruna não parou um minuto. Correu atrás da moto 4 como quem corre atrás da felicidade. Ele e os outros patolas andaram numa correria e constante brincadeira sem parar. À hora de almoço eu fui fazer o almoço e a Kangoo ( o carro matrona) saiu para ir despejar o lixo. A D. Bruna que ainda não estava satisfeito, desatou a correr esbaforido atrás do carro, contornando todo o percurso da Kangoo, pensando que íamos sair. Quando saí para a rua novamente (e por acaso) dei com ele a arfar no chão, estendido. Com a língua de fora muito aflito. Respirava a custo e gemia. Preparei o mais rapidamente que pude o carro para levá-lo ao veterinário mas a morte foi mais rápida do que eu. E num ápice ali estava eu atónita, com as lágrimas a quererem sair nem sabiam bem por onde. O esforço físico tinha sido excessivo e o coraçãozinho idoso não aguentou. O minuto seguinte durou séculos. Revivi todo o ano que vivêramos juntos . A alegria, a sofreguidão da correria, as sonecas da tarde na cadeira de baloiço com ele a dormitar aos pés. A sabedoria com que ouvia as palestras que faço para mim e para eles enquanto cozinho, com ele sentado sobre as patas traseiras e a língua de fora como quem percebe o que dizemos mas principalmente com o ar de quem compreende o que nem sabemos que queremos dizer. …A sabedoria e a tranquilidade que só um animal sénior no sabe transmitir. Há qualquer coisa de inexplicavelmente maravilhoso num animal sénior…
Tenho muitas saudades da D. Bruna. A ele faltou-lhe mais tempo para viver a vida com toda a jovialidade tardia que o corpo conseguiu reunir. A mim ficou-me a angústia de não lhe poder ter dado mais tempo assim …como ele gostava.

O tempo pleno de liberdade e felicidade foi pouco para a D. Bruna. E assim vivem milhares de outros cães neste país. Toda a vida. Presos a uma trela. Milhares de dias, milhares de horas, milhões de segundos. O que pergunto é: Alguém ganha algo com isso?
Talvez eu saiba
todos os dias o que fazer.
Talvez, lá no fundo,
até saiba como.
Melhor do que ninguém.
Talvez até me sinta disposta a isso por momentos.
Num acto de heroísmo.
De consciência.
De humanidade.
Mas a verdade é que raramente o faço.
E quando o faço
sinto-me sempre
mais verdadeira do que na verdade o sou.
Sinto-me sempre mais heroína do que na verdade posso ser.
Sinto-me sempre que desperdicei força que preciso para me salvar.

Depois volto ao fundo do poço.
E como me sinto mal por me sentir só.


Valor de propriedade: 50€
Donativo a favor da Associação dos Amigos dos Animais de Barcelos
Responsável: Patrícia Ramalho: 91 1970207- NOVO CONTACTO (se não atender deixe por favor mensagem, ligar preferencialmente entre as 19H e as 22H, não atendemos números não identificados)
Mail:animais.barcelos@gmail.com

NOVO NIB: 0033.0000.45377247670.05 (para donativos, enviar p.f. mail com data e valor da transferência se possível).